sábado, 14 de março de 2009

Heraldo Barbuy



Por Victor Emanuel Vilela Barbuy


Neste dia 09 de janeiro completam-se vinte e nove anos do falecimento de Heraldo Barbuy, brilhante professor, pensador, filósofo, sociólogo, historiador, jornalista, conferencista, orador e tradutor infelizmente tão desconhecido das novas gerações.
Nascido em São Paulo, no ano de 1913, era filho de Hermógenes Barbuy e de Maria Chinaglia Barbuy aquele que foi - no dizer de Paulo Bomfim, o poeta da Terra Bandeirante - um “cruzeiro estelar” que a todos guiou "através do mar tenebroso destes dias”. A seu lado, o autor de “Transfiguração” e muitos outros homens de pensamento contornaram o “Cabo das Tormentas” e rumaram “para as Índias secretas do pensamento e da beleza”.
Barbuy, “último cruzado num mundo onde os homens se mecanizam e as máquinas se espiritualizam”, conduzido - como lembra o poeta de "Armorial" - pelas “paixões e por sua vontade de acertar, caminhou da trapa ao ceticismo, do ceticismo a São Tomás, de Santo Tomás a Heidegger”.
Heraldo - como observou Gilberto de Mello Kujawsky - foi sempre fiel ao nome, que significa arauto, uma vez que jamais deixou de ser o portador da palavra e de seu poder espiritual. "Não da palavra oca e sonora, e sim da palavra repassada de pensamento e sentido, 'logos'”. O autor de “Fernando Pessoa, o outro” - que se considera devedor de Barbuy pela revelação que este fez, a ele e a tantos outros, “da vida como missão de grandeza, da cultura como criadora de sentido, da história como fonte da realidade, da poesia e da mística como iniciação ao êxtase” - evocou o “assombroso poder verbal” com que Heraldo Barbuy “familiarizava imediatamente os ouvintes" com os temas por ele focalizados nas salas de aula, nos salões de conferências, no rádio, na televisão, ou nas simples conversas entre amigos.
Heraldo Barbuy, “personalidade marcante de fulgurante inteligência e de soberbas virtudes humanas”, no dizer do pensador humanista Jessy Santos, foi, ainda segundo as palavras de Jessy, um “católico fervoroso”, “um homem religioso no sentido mais autêntico do termo” e “um pai de família extremado em zelos". Proferiu diversas conferências magníficas e foi um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Filosofia, colaborando na “Revista Brasileira de Filosofia”, de cujo conselho de redação foi membro. Colaborou também na revista e no jornal “Reconquista”, periódicos tradicionalistas dirigidos respectivamente por José Pedro Galvão de Sousa e Clovis Lema Garcia, em revistas como "Clima", da qual foi um dos fundadores, "Diálogo", "Convivium" e "Problemas Brasileiros" e em jornais como "Correio Paulistano", "O Estado de S. Paulo", "A Gazeta" e "Folha da Manhã”. Foi, ainda, redator da "Revista da Universidade de São Paulo" e do jornal "A Notícia", de Joinville, Santa Catarina.
Como professor, Heraldo Barbuy lecionou disciplinas como História, Francês, Literatura Francesa e Sociologia Econômica nos colégios Bandeirantes, Pan-americano e Rio Branco, na Faculdade de Filosofia Sedes Sapientiae, na Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de São Paulo e na Fundação Armando Álvares Penteado.
Barbuy - aquele “homem da 'Floresta Negra', ser cósmico” que rumou "para a morte lendo Novalis, Hoelderlin e Rilke, ouvindo Beethoven, Wagner, Richard Strauss e Carl Orff”, no dizer de Paulo Bomfim - nos legou ensaios filosóficos do quilate de “O problema do ser” (1950) e “Marxismo e Religião” (1963). Nesta última obra, demonstrou o Mestre que o marxismo constitui, antes e acima de tudo, uma heresia do Cristianismo, sendo a concepção marxista do Homem não mais do que “a degenerescência da concepção cristã do Homem”.
Na década de 1980, a editora Convívio, dirigida por Adolpho Crippa, publicou uma antologia de Heraldo Barbuy intitulada "O problema do ser e outros ensaios". E por falar em antologia, Gumercindo Rocha Dorea, este incansável editor - que figura ao lado de José Olympio e de Augusto Frederico Schmidt como o maior descobridor de vultos de nossa Literatura e que praticamente inaugurou o gênero ficção científica no Brasil - deve lançar, ainda neste ano de 2008, uma antologia de cem páginas do Prof. Heraldo Barbuy organizada pela viúva deste, a Profa. Belkiss Silveira Barbuy, autora de "Nietzsche e o Cristianismo", obra em que é analisada a posição do autor de "Assim falava Zaratustra" em face da Doutrina Cristã e que também foi publicada pela GRD.
É importante recordar, entretanto, que a obra de Heraldo Barbuy, em que pese toda a sua grandeza, como observa o Prof. José Pedro Galvão de Sousa - o maior pensador tradicionalista do Brasil ao lado de Plínio Salgado, na abalizada opinião de Francisco Elías de Tejada y Spínola - “ficou muito longe de esgotar o tesouro das reflexões que ao longo dos anos ele foi acumulando sobre os grandes problemas da existência e do destino do homem”, sendo que “os que tiveram a ventura de conhecê-lo de perto e de privar de seu convívio bem sabem quanto o conteúdo do seu riquíssimo mundo interior ultrapassou a dimensão dos escritos legados por ele à posteridade”.


(Publicado a 12 de janeiro de 2008 no jornal O Município, São João da Boa Vista, São Paulo)

Um comentário:

  1. Tive a honra de ter sido seu aluno no curso de Ciências Econômicas na Álvares Penteado, turma de 1958. O Professor Barbuy nos encantava com suas aulas, com sua extrema inteligência e cultura e, principalmente, com a categoria que imprimia às suas aulas. Uma noite ao ser indagado como realmente identificar o estilo gótico ele nos deixou perplexos ao mostrar com os dois braços erguendo-se até tocarem-se as duas mãos no alto como uma prece. "-Isto é o que identifica o estilo gótico"...
    Francisco Gomez Martinez
    Moema, São Paulo, Brasil.

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